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Fernanda F. D’Agostini • 03/02/2025

5 Princípios Essenciais para Cidades Sustentáveis e Inclusivas

A urbanidade é um conceito fundamental para a construção de cidades mais humanas, integradas e eficientes. Ela pode ser entendida como a relação harmoniosa entre as pessoas e o espaço urbano, promovendo acolhimento e integração social. Para que uma cidade seja verdadeiramente urbana no sentido qualitativo, ela deve atender a cinco princípios básicos: qualidade dos espaços construídos, equipamentos públicos adequados, bem-estar social, acessibilidade e mobilidade. A seguir, exploramos os princípios de urbanidade para cidades sustentáveis, com exemplos concretos para facilitar o entendimento.

1. Qualidade dos Espaços Construídos

A qualidade dos espaços construídos se refere ao planejamento e à execução de edificações e espaços públicos que sejam seguros, sustentáveis, esteticamente agradáveis e funcionais. Isso envolve desde a arquitetura dos prédios até o desenho urbano das ruas e praças, promovendo uma conexão fluida entre os diversos usos da cidade. Isso acontece quando os princípios de urbanidade para cidades sustentáveis são levados em consideração em seu planejamento macro e micro.

A cidade de Copenhague é um exemplo na qualidade dos espaços construídos, pois visa investir no desenho urbano para priorizar o pedestre e o ciclista, garantindo espaços bem iluminados, áreas verdes e edificações harmônicas que respeitam o entorno. A qualidade dos espaços construídos impacta diretamente a mobilidade e a segurança dos cidadãos, sendo um componente essencial para a funcionalidade da cidade, um espaço urbano de qualidade é aquele onde a população se apropria em seus mais diversos usos e períodos.

2. Equipamentos Públicos

Os equipamentos públicos são essenciais para garantir qualidade de vida aos cidadãos. Isso inclui escolas, hospitais, bibliotecas, centros culturais, praças e parques, entre outros. A distribuição desses equipamentos deve ser equitativa para que todas as regiões da cidade tenham acesso a serviços básicos, promovendo desenvolvimento social e reduzindo desigualdades.

Neste contexto, Bogotá, na Colômbia, é um exemplo de cidade que investiu na descentralização de bibliotecas públicas, garantindo acesso à educação e cultura mesmo em áreas periféricas. Além disso, a criação de centros comunitários conectados à malha urbana fortalece o vínculo social entre os moradores e incentiva a apropriação dos espaços públicos. No Brasil, nas últimas décadas, tem se investido na implantação de universidades públicas em pontos mais afastados dos centros das cidades, buscando polarizar a oferta para toda a população.

3. Bem-Estar Social

O bem-estar social está diretamente ligado a políticas públicas que garantam segurança, moradia digna, lazer, saúde e educação para a população. A qualidade de vida nas cidades depende de um planejamento urbano que reduza desigualdades e promova inclusão, conectando diferentes áreas e serviços urbanos.

Curitiba é reconhecida por seu planejamento urbano que prioriza o bem-estar social, oferecendo moradias populares em locais bem conectados por transporte público e infraestrutura urbana eficiente. Um planejamento urbano que leva em conta a inclusão social fortalece o sentimento de pertencimento e cria um ambiente urbano mais seguro e acessível para todos.

4. Acessibilidade

A acessibilidade diz respeito à possibilidade de todas as pessoas, independentemente de idade ou limitações físicas, conseguirem se deslocar e utilizar os espaços urbanos de forma segura e independente. Isso envolve desde a adaptação de calçadas até a inclusão de rampas e elevadores em edificações públicas, garantindo que todas as pessoas possam usufruir plenamente da cidade.

Barcelona implementou um sistema de mobilidade universal que inclui ônibus adaptados, calçadas rebaixadas e espaços acessíveis para pessoas com deficiência. Em São Paulo, embora haja avanços na adaptação do transporte público, ainda há desafios na padronização das calçadas e na remoção de barreiras arquitetônicas, evidenciando a necessidade de planos integrados para garantir acessibilidade plena.

5. Mobilidade

A mobilidade eficiente é um dos pilares da urbanidade. Para que uma cidade funcione bem, é necessário garantir alternativas de transporte público de qualidade, priorizando modais sustentáveis, como ônibus elétricos, metrôs e ciclovias. A integração da mobilidade com os demais elementos urbanos reduz congestionamentos e melhora a qualidade do ar.

Como exemplo, podemos citar a cidade de Amsterdã que é mundialmente famosa por sua infraestrutura de mobilidade sustentável, incentivando o uso de bicicletas e o transporte coletivo de maneira eficiente, porém ressalta-se que isso foi possível graças à qualidade do espaço construído. No entanto, essa transformação foi viabilizada por um planejamento urbano que valoriza ruas compartilhadas, reduz a dependência do carro e melhora a qualidade do espaço urbano. 

Apesar da cidade de São Paulo possuir 755,4 km de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo 723,3 km de Ciclovias/Ciclofaixas e 32,1 km de Ciclorrotas, segundo dados contidos nos relatórios de Mobilidade no Sistema Viário Principal – MSVP, produzidos pela CET – Companhia de Engenharia de Tráfego demonstram que o uso deste sistema é muito baixo pelo quantitativo populacional, são apenas algumas poucas dezenas de pessoas por dia utilizam estas vias, é um alerta que o desenho proposto pode não atender às questões de urbanidade aqui colocadas.

Considerações Finais

Ao aplicar os princípios de urbanidade para cidades sustentáveis, os territórios se tornam mais inclusivos, seguros e sustentáveis, proporcionando melhor qualidade de vida para todos. A urbanidade, portanto, não é apenas um conceito teórico, mas uma diretriz fundamental para o planejamento urbano. Projetos e planos urbanos bem estruturados devem integrar os princípios de qualidade do espaço construído, equipamentos públicos, bem-estar social, acessibilidade e mobilidade, garantindo cidades mais humanas e funcionais.

Além disso, a construção de uma cidade mais urbana no sentido qualitativo não depende apenas do poder público ou de urbanistas e arquitetos, mas também da participação ativa da população. Cidadãos engajados, que cobram melhorias, respeitam os espaços coletivos e participam das decisões locais, são essenciais para a construção de um ambiente urbano mais justo e equilibrado. Portanto, a urbanidade deve ser uma meta compartilhada por todos aqueles que vivem e constroem a cidade diariamente.

Referências

COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO – CET. Relatórios de Mobilidade no Sistema Viário Principal – MSVP.

GEHL, Jan. Cidades para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.

JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2001.

LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2018.

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Autor

  • Certificada PMI® PMP® em gestão de projetos, consultora em gestão de projetos para implementação de processos para maior produtividade e engajamento da equipe, possui larga experiência na elaboração e execução de projetos residenciais, comerciais e institucionais, atua no mercado de trabalho desde 2001 e como docente no ensino superior há mais de 10 anos. Doutora (2019) e Mestre (2014) em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Arquiteta e Urbanista formada pela Universidade São Judas (2000) e especialista em Criação Visual e Multimídia pela mesma universidade (2003).

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