Introdução
Cidades sustentáveis exemplificam a harmonia entre meio ambiente, desenvolvimento urbano e qualidade de vida. A sustentabilidade urbana de Copenhague e Vancouver destaca-se nesse cenário, oferecendo lições valiosas para arquitetos e urbanistas. Nesse sentido, Copenhague (Dinamarca) e Vancouver (Canadá) destacam-se como verdadeiros exemplos de urbanismo sustentável. Mas quais são as principais lições que essas duas cidades podem trazer para arquitetos e urbanistas? E como adaptar essas práticas à realidade brasileira?
A seguir, exploramos como estas cidades estruturaram seus projetos de mobilidade, energia limpa e governança participativa. Também abordamos a importância de adequar essas estratégias às características locais, garantindo que o planejamento urbano seja não apenas ecológico, mas também inclusivo e eficiente.
1. Copenhague: Estratégias para Alcançar a Neutralidade de Carbono até 2025
A capital dinamarquesa é conhecida mundialmente pela meta ousada de se tornar carbon neutral (neutra em carbono) até 2025. Esse compromisso público reflete a forma como a cidade integra mobilidade, energia limpa e espaços públicos de alta qualidade.
1.1. Mobilidade Urbana Focada em Ciclovias
Um dos maiores diferenciais de Copenhague é o forte investimento em ciclovias seguras e conectadas. Para além de pintar faixas no asfalto, a cidade desenvolveu estruturas segregadas, facilitando o deslocamento de ciclistas mesmo em regiões de tráfego intenso. O resultado? Uma parte significativa da população opta pela bicicleta como principal meio de transporte diário.
Dentro deste contexto, vale ressaltar que atualmente há diversas ferramentas de IA que contribuem significativamente com o planejamento da mobilidade urbana, deixo a dica de leitura: IA na Mobilidade Urbana: limitações e desafios.
1.2. Energia Limpa e Edificações Eficientes
Outro ponto forte é o sistema de aquecimento distrital (district heating), que aproveita o calor residual de usinas de energia para aquecer residências. Além disso, novas construções devem cumprir normas de eficiência energética, enquanto prédios antigos passam por reformas (retrofit) para reduzir o consumo de eletricidade e aquecimento. Essa combinação de políticas garante que a cidade avance em direção a uma matriz energética cada vez mais renovável.
1.3. Participação Comunitária e Espaços Públicos Acolhedores
Copenhague também investe em ruas e praças desenhadas para as pessoas, incentivando a ocupação do espaço público. Bancos, áreas verdes e mobiliário urbano de qualidade ajudam a criar uma cultura de convivência ao ar livre, fortalecendo o senso de comunidade. Essa humanização da cidade reforça a relação entre sustentabilidade ambiental e bem-estar social.
2. Vancouver: A Caminho de se Tornar a “Greenest City”
Enquanto Copenhague brilha na Europa, Vancouver se destaca na América do Norte com a meta de ser a “Greenest City” do mundo. A prefeitura estabeleceu um conjunto de metas claras de redução de emissões de CO₂, investindo em transporte público, zoneamento sustentável e eficiência energética.
2.1. Metas Claras de Emissões e Planejamento
Vancouver adota indicadores concretos para medir o progresso de suas políticas de sustentabilidade. Por meio do Greenest City Action Plan, a cidade busca reduzir emissões, ampliar áreas verdes e incentivar o uso de energias renováveis. A gestão local promove consultas públicas frequentes, assegurando que moradores e empresas participem das decisões.
2.2. Zoneamento Misturado e Edificações Verdes
Uma das estratégias centrais de Vancouver é o zoneamento misto, que aproxima moradias, comércios e serviços em um mesmo bairro. Isso reduz a necessidade de deslocamentos longos e incentiva o uso de transporte coletivo e mobilidade ativa (bicicletas e caminhadas). Além disso, a cidade conta com padrões rigorosos para edificações verdes, promovendo construções que priorizam ventilação natural, aproveitamento de luz solar e materiais sustentáveis.
2.3. Governança Participativa
O sucesso de Vancouver está intimamente ligado à participação da comunidade. Fóruns, workshops e plataformas digitais facilitam o diálogo entre gestores públicos, setor privado e cidadãos. Essa abordagem colaborativa torna as metas de sustentabilidade mais tangíveis e ajuda a criar uma cultura de engajamento contínuo.
3. Lições para Arquitetos e Urbanistas
- Mobilidade Ativa e Transporte Público
- Priorize ciclovias e corredores exclusivos para ônibus ou sistemas BRT.
- Integre diferentes modais de transporte, facilitando conexões entre bairros.
- Transição Energética
- Incentive a adoção de energias renováveis em edificações públicas e privadas.
- Exija padrões de eficiência energética para novas construções e promova retrofit em prédios antigos.
- Planejamento Territorial e Zoneamento
- Estimule zoneamentos mistos, aproximando serviços, moradias e áreas de lazer.
- Requalifique espaços públicos, criando praças, parques e corredores verdes que contribuam para a biodiversidade local.
- Governança e Participação Social
- Crie conselhos de sustentabilidade com representantes de órgãos públicos, setor privado e sociedade civil.
- Invista em campanhas de educação ambiental para envolver moradores e reforçar o senso de pertencimento.
- Economia Circular e Resiliência Climática
- Desenvolva planos de gestão de resíduos que incluam reciclagem e compostagem.
- Planeje infraestrutura verde (parques lineares, telhados verdes, reservatórios de água de chuva) para reduzir impactos de inundações e ondas de calor.
4. Adaptando as Práticas ao Contexto Brasileiro
Embora Copenhague e Vancouver sejam exemplos de sucesso em sustentabilidade urbana, cada estratégia precisa ser ajustada à realidade brasileira. No Brasil, vários fatores influenciam a implementação de políticas voltadas à redução de emissões e melhoria da qualidade de vida:
- Clima e Geografia
Em regiões tropicais, ventilação cruzada, sombreamento natural e aproveitamento inteligente das correntes de ar podem ser mais relevantes do que sistemas de aquecimento distrital. Projetos de arquitetura e urbanismo devem considerar a alta incidência solar, a umidade e as chuvas intensas, adaptando-se às especificidades de cada microrregião. - Desigualdade Social
A realidade brasileira é marcada por disparidades socioeconômicas, o que exige políticas públicas inclusivas que garantam acesso à moradia digna, saneamento básico e transporte público de baixo custo. O combate à segregação urbana passa pela democratização do espaço e pela integração das periferias, promovendo oportunidades de desenvolvimento em todas as regiões da cidade. - Governança e Planejamento de Longo Prazo
Muitos municípios brasileiros enfrentam a falta de integração entre secretarias e órgãos, dificultando a execução de projetos de grande escala. Para contornar esses desafios, é essencial investir em governança integrada e estabelecer metas de longo prazo, envolvendo a sociedade civil e o setor privado. Dessa forma, as iniciativas de mobilidade, eficiência energética e recuperação de áreas urbanas degradadas podem ganhar consistência e efetividade.
5. Conclusão
Os exemplos de Copenhague e Vancouver de sustentabilidade urbana demonstram que cidades sustentáveis não são utopias, mas sim o resultado de planejamento estratégico, participação comunitária e vontade política. Para arquitetos e urbanistas, essas referências reforçam a necessidade de pensar o espaço urbano de forma integrada, priorizando a mobilidade ativa, a eficiência energética e a criação de espaços públicos de qualidade.
Ao adaptar essas práticas à realidade local, podemos avançar na construção de cidades mais resilientes, inclusivas e vibrantes, onde o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental caminhem lado a lado. Afinal, sustentabilidade urbana não é apenas um conceito: é o caminho para garantir que as próximas gerações herdem um ambiente seguro, saudável e cheio de oportunidades.
Quais dessas estratégias você acredita que poderiam ser implementadas em sua cidade? Deixe seu comentário abaixo e participe da discussão sobre sustentabilidade urbana!
Referências
Copenhagen Carbon Neutral 2025
Greenest City Action Plan (Vancouver)
Danish Energy Agency
City of Vancouver – Sustainability
Gostou deste conteúdo? Então continue lendo:
Autor
-
Certificada PMI® PMP® em gestão de projetos, consultora em gestão de projetos para implementação de processos para maior produtividade e engajamento da equipe, possui larga experiência na elaboração e execução de projetos residenciais, comerciais e institucionais, atua no mercado de trabalho desde 2001 e como docente no ensino superior há mais de 10 anos. Doutora (2019) e Mestre (2014) em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Arquiteta e Urbanista formada pela Universidade São Judas (2000) e especialista em Criação Visual e Multimídia pela mesma universidade (2003).
Ver todos os posts