POST

Fernanda F. D’Agostini • 13/05/2024

Seus gestores estão prontos para os desafios do mercado atual?

Introdução

Nestes últimos meses dois estudos sobre liderança corporativa me chamaram a atenção, pois endossam o que sempre falo sobre a importância do papel do gerente de projetos e como ele é fundamental para o sucesso de um projeto. 

Assim, a capacitação e formação contínua destes profissionais é o fio condutor que toda a empresa deveria se atentar, visto que 70% do engajamento da equipe depende do seu líder direto, enquanto 8 a cada 10 profissionais pedem demissão por causa do seu líder.

É dentro deste contexto que neste artigo trago uma reflexão sobre o papel do gerente de projetos, seus principais desafios contemporâneos e as consequências dos processos de negligenciamento das empresas quanto aos seus líderes.

O papel do gerente de projetos

O gerente de projeto é a pessoa designada pela organização executora para liderar a equipe responsável por alcançar os objetivos do projeto. Assim, desempenha:

  • Papel crítico de liderança;
  • Pode ser envolvido no início do projeto ou até mesmo antes;
  • Pode estar envolvido em atividades de acompanhamento relacionados à realização dos benefícios de negócios resultante do projeto.

Desta forma, o gerente de projeto deve ser capaz de identificar os requisitos do cliente, adaptar-se às diferentes condições das partes interessadas, balancear restrições conflitantes: escopo – cronograma – qualidade – recursos – riscos.

A função do gerente de projeto será adaptada a cada organização.

Assim, podemos dizer que para exercer a função de gerente de projetos você precisa ter conhecimento e compreensão de todos os assuntos pertinentes a área de conhecimento do projeto, além de ser responsável pela equipe e seus resultados, para isso direção, liderança e motivação da equipe em direção aos objetivos são elementos cruciais na rotina do gerente de projeto.

O gerente de projetos além de todas essas habilidades também exerce o papel de influenciador tendo como foco:

  • No equilíbrio das restrições;
  • Na comunicação entre a equipe, patrocinador e demais partes interessadas;
  • Nas habilidades comportamentais, interpessoais e a capacidade de gerenciar pessoas para equilibrar as metas conflitantes e obter consenso.

Em suma, o gerente de projetos deve ter as características apresentadas no Triângulo de Talentos, representado na figura a seguir.

Assim, é esperado que um gerente de projeto tenha algum nível de habilidade em cada uma dessas características, pois cada projeto, organização e situação exigirá que ele enfatize diferentes aspectos da personalidade, as soft skills (habilidades interpessoais) tem ganhado cada vez mais atenção do mercado de trabalho e, sim, pode ser o seu diferencial entre um bom ou mau gerente.

Por fim, temos que sempre observar para evitar o Efeito Halo, caracterizado pela tendência de considerar um profissional por sua competência em uma área específica como competente em outras áreas. Um técnico nem sempre é um bom gestor.

A equipe de trabalho

A equipe do projeto precisa ser capaz de avaliar a situação do projeto, equilibrar as demandas e manter uma comunicação proativa com as partes interessadas a fim de entregar um projeto bem-sucedido.

Não podemos deixar de entender que a equipe também faz parte das partes interessadas, desta forma o gerente de projetos tem como atribuição desenvolver a equipe do projeto, melhorando as competências e interação de membros da equipe para aprimorar o desempenho do projeto, além de acompanhar o desempenho de membros da equipe, fornecimento de feedback, resolução de problemas e coordenação de mudanças para melhorar o desempenho do projeto.

A motivação da equipe é de responsabilidade do gerente de projetos e deve ser um ponto de atenção, pois pela teoria da expectativa quanto mais alta a expectativa maior será a performance, quanto mais baixa a expectativa ou mesmo inexistente mais baixa será o desempenho.

A motivação está atrelada a um resultado que gera valor.

Victor Vroom

O gerenciamento da equipe envolve uma combinação de habilidades, com ênfase especial em comunicação, gerenciamento de conflitos, negociação e liderança. Com isso é importante que o gerente de projetos tenha sensibilidade tanto para a disposição como para a capacidade dos membros da equipe para realizar o trabalho e equilibrar seus estilos de gerenciamento e liderança.

O cenário atual

O estudo desenvolvido por Joshbersin · publicado 1º de novembro de 2023, mostra que o nível de maturidade de liderança tem diminuído significativamente nesta última década conforme mostra o quadro abaixo:

% das empresasConstatações
25%Acreditam que o desenvolvimento da sua liderança proporciona elevado valor à empresa
24%Afirmam que o seu modelo está “atualizado” ou “altamente relevante”
11%Adotam a mentoria e apenas 18% dão coaching para gestores e líderes
15%Cuidam dos líderes e monitoram ativamente e mitigam o esgotamento dos líderes
17%Estão aumentando seus orçamentos de desenvolvimento de liderança
17%Têm um processo de gestão de sucessão e avaliação de liderança
26%Se sentem preparadas para uma substituição não planejada ou emergencial do CEO
12%Pontuam no nível superior do modelo de maturidade JBC

Fonte: https://joshbersin.com/2023/11/companies-have-been-neglecting-their-leadership-and-it-shows/

Estes dados demonstram o declínio no investimento e no foco das empresas no desenvolvimento de lideranças, mesmo diante dos desafios que vivenciamos nos últimos anos, como a pandemia, o trabalho remoto/híbrido, saúde mental, inteligências artificiais e o mercado de trabalho altamente competitivo.

Associa-se a este fato as dificuldades enfrentadas pelos líderes quanto à diversidade de gerações dentro de uma equipe, a pesquisa “Panorama de Sentimento das Lideranças”, desenvolvida pela escola de educação corporativa Sputnik, aponta que 79% das lideranças estão com dificuldade em conduzir diferentes gerações, visto que atualmente temos quatro gerações trabalhando no mesmo ambiente com bagagens, visões e formas de trabalhar bem diferentes. Também foi apontado que 25% das lideranças consideram como um ponto nebuloso as formas de desenvolver e engajar a equipe em seu dia a dia.

Soma-se a isso a negligência quanto à formação de líderes dentro das empresas visto que, segundo Joshbersin, 60% das empresas gastam menos de US$500,00 por ano e por pessoa na gestão e desenvolvimento de liderança.

Consequências que podem ser evitadas

Empresas que investem em programas de desenvolvimento de líderes e não apenas em sua promoção apresentam resultados muito melhores, pois possuem mais chances de encantar clientes e ultrapassar metas financeiras, ganham maior propensão a serem consideradas um bom lugar para se trabalhar, além de se adaptarem bem às mudanças. 

Além disso, líderes capacitados buscam dar voz às pessoas, criando um ambiente colaborativo, onde cada indivíduo se sente valorizado, isso também faz com que tenha maior capacidade de motivar e engajar sua equipe de forma a ter maior produtividade.

Não dá para ignorar a diversidade etária que estamos vivenciando, neste ponto o importante é ter um líder que entenda os benefícios desta diversidade: criatividade, inovação e visões distintas voltadas para o mesmo projeto. Assim, o segredo está em não encarar como um conflito geracional, construir um ambiente onde todos trabalhem em conjunto aproveitando ao máximo o que cada um pode trazer de sua experiência.

Pode-se dizer que a liderança do futuro é aquela que facilita, cria e desenvolve uma cultura organizacional mais pautada na otimização dos recursos, diminuição de processos burocráticos e que fortalece a autonomia e o protagonismo de sua equipe. Mas para isso, é fundamental uma atenção especial à comunicação, um dos grandes gargalos organizacionais nos dias de hoje.

Leia também:

Autor

  • Certificada PMI® PMP® em gestão de projetos, consultora em gestão de projetos para implementação de processos para maior produtividade e engajamento da equipe, possui larga experiência na elaboração e execução de projetos residenciais, comerciais e institucionais, atua no mercado de trabalho desde 2001 e como docente no ensino superior há mais de 10 anos. Doutora (2019) e Mestre (2014) em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Arquiteta e Urbanista formada pela Universidade São Judas (2000) e especialista em Criação Visual e Multimídia pela mesma universidade (2003).

    Ver todos os posts
0 0 Votos
Article Rating
Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais antigo
O mais novo Mais Votados
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
Posts Recentes

Metodologias Ágeis na Arquitetura: Mais Eficiência nos Projetos

Este artigo explora como as metodologias ágeis na arquitetura estão revolucionando a gestão de projetos. Apresenta conceitos como Scrum, Kanban e Lean Construction e demonstra como essas abordagens melhoram a flexibilidade, reduzem riscos, otimizam recursos e promovem a sustentabilidade em projetos de arquitetura e urbanismo.

Leia mais »
Imagem criada por IA representando as características das cidades históricas e sua resiliência no tempo.

Resiliência urbana de São Luiz do Paraitinga

O artigo “Reconstrução e Resiliência: O Legado de São Luiz do Paraitinga e a Gestão de Riscos Urbanos”, de Fernanda F. D’Agostini, publicado em 25 de março de 2025, analisa o processo de reconstrução de São Luiz do Paraitinga após a inundação de 2010, que destruiu parte significativa de seu patrimônio histórico. A autora destaca a colaboração entre sociedade civil, universidades e entidades governamentais na reconstrução, enfatizando a importância de técnicas e materiais construtivos resilientes. O texto ressalta a necessidade de planejamento urbano sustentável e gestão integrada de riscos para tornar as cidades mais preparadas para eventos climáticos extremos, alinhando-se ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 da ONU.​

Leia mais »
Imagem criada por IA representando os contrastes da cidade antiga e nova, por meio de seus edifícios ilustrando o equilíbrio e sustentabilidade urbana de Vancouver e Copenhague.

Copenhague e Vancouver: Lições de Sustentabilidade Urbana

O artigo “Copenhague e Vancouver: Lições de Sustentabilidade Urbana”, analisa as estratégias adotadas por essas duas cidades para promover o urbanismo sustentável. Em Copenhague, destaca-se o investimento em ciclovias seguras, sistemas de aquecimento distrital que utilizam calor residual de usinas e a criação de espaços públicos que incentivam a convivência comunitária. Vancouver, por sua vez, implementa metas claras de redução de emissões de CO₂, promove zoneamento misto para aproximar moradias e serviços, e estabelece padrões rigorosos para edificações verdes. A autora enfatiza a importância de adaptar essas práticas à realidade brasileira, priorizando mobilidade ativa, transição energética e participação comunitária no planejamento urbano.

Leia mais »