Introdução
Você já passou horas no celular tentando comprar materiais para a obra de última hora? Esse problema, comum entre arquitetos e engenheiros, pode ser um indicativo de falhas na gestão de projetos na construção civil. A correria para suprir a falta de materiais não só desgasta a equipe e o cliente, mas também compromete o cronograma e o orçamento da obra. Mas como evitar esse problema?
A resposta está na aplicação das boas práticas de gestão de projetos, fundamentadas no PMBOK (Project Management Body of Knowledge), do PMI (Project Management Institute). Neste artigo, você verá algumas dessas diretrizes que podem transformar sua abordagem no canteiro de obras e garantir maior previsibilidade e controle.
PMBOK e a Gestão de Materiais na Obra
O PMBOK define a gestão de projetos como a aplicação de conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas para atender aos requisitos do projeto. Dentro desse arcabouço da gestão de projetos na construção civil, há algumas áreas específicas que ajudam a mitigar o problema da falta de materiais:
- Gerenciamento do Escopo: Definir claramente o escopo da obra evita retrabalhos e mudanças constantes, que podem impactar diretamente a compra de materiais. Um escopo bem definido significa que os insumos necessários são previstos e adquiridos conforme o planejamento, reduzindo compras emergenciais.
- Gerenciamento do Tempo: A falta de materiais pode atrasar o cronograma. O PMBOK sugere a criação de um cronograma detalhado com a técnica do caminho crítico, garantindo que a compra de insumos ocorra antes da necessidade real, evitando paralisações inesperadas.
O caminho crítico é uma técnica de planejamento de cronogramas utilizada na gestão de projetos para identificar a sequência de atividades que determinam a duração mínima do projeto. Ele é essencial para garantir que os prazos sejam cumpridos, pois qualquer atraso em uma atividade do caminho crítico resultará no atraso do projeto como um todo. Aplicado à gestão de materiais na obra, o uso do caminho crítico permite prever os momentos exatos em que cada insumo será necessário, garantindo que as compras sejam feitas antecipadamente e evitando paralisações inesperadas. - Gerenciamento dos Custos: Compras emergenciais geralmente saem mais caras. O planejamento orçamentário do projeto, incluindo a reserva de contingência, permite que os materiais sejam adquiridos a preços melhores e com condições mais vantajosas.
- Gerenciamento das Aquisições: A área de aquisições no PMBOK trata da relação com fornecedores e contratos. Criar um plano de aquisições evita compras por impulso e negociações desfavoráveis. Trabalhar com contratos de fornecimento pré-estabelecidos também reduz o risco de atrasos.
- Gerenciamento dos Recursos: A gestão eficiente dos materiais envolve entender quando e como cada item será utilizado. Isso passa pela adoção de ferramentas que permitam um controle de estoque eficaz e o acompanhamento do uso dos insumos na obra.
Ferramentas Para Evitar Compras Emergenciais
Existem diversas ferramentas que podem ser incorporadas para melhorar a gestão de projetos na construção civil e evitar o estresse das compras de última hora. Algumas delas incluem:
- Planilhas de Planejamento de Compras: Criar uma planilha estruturada com previsão de materiais baseada no cronograma evita esquecimentos e proporciona uma visão clara do que precisa ser adquirido em cada fase da obra.
Para criar uma planilha eficiente, algumas boas práticas podem ser adotadas:
- Organização por Etapas da Obra: Divida a planilha conforme as fases do projeto (fundação, alvenaria, acabamento etc.), listando os materiais necessários para cada uma.
- Definição de Quantidades e Prazos: Estabeleça as quantidades exatas e os prazos para aquisição de cada item, alinhados ao cronograma da obra.
- Colunas para Status de Compra: Insira campos como “Previsto”, “Solicitado”, “Comprado” e “Entregue” para monitoramento detalhado do fluxo de materiais.
- Automatização com Fórmulas: Utilize fórmulas para calcular totais, prever custos e alertar sobre prazos de compra próximos.
- Integração com Estoque: Se possível, vincule a planilha a um controle de estoque para evitar compras desnecessárias ou excessivas.
- Softwares de Gestão de Projetos (ex: MS Project, Trello, ClickUp): Essas plataformas permitem uma organização detalhada do planejamento da obra, possibilitando o acompanhamento em tempo real das tarefas e a definição de prazos estratégicos para a compra de materiais.
No MS Project, por exemplo, é possível criar um cronograma estruturado com dependências entre tarefas, garantindo que os pedidos de materiais ocorram antes da necessidade real, prevenindo atrasos. Já ferramentas como Trello e ClickUp facilitam a comunicação entre a equipe, permitindo que responsáveis por compras sejam notificados automaticamente quando for o momento ideal para adquirir um insumo específico. Essas plataformas também possibilitam a integração com outras ferramentas de gestão financeira e de estoque, promovendo um controle ainda mais preciso e evitando compras de última hora que possam comprometer o orçamento da obra.
- ERP para Construção Civil: Os Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (ERP) são plataformas que ajudam empresas a gerenciar seus processos de forma integrada, centralizando informações de diferentes áreas, como compras, estoque, finanças e logística. No setor da construção civil, ERPs como Sienge e Obra Prima permitem um controle detalhado das aquisições, evitando compras desnecessárias e garantindo previsibilidade. Essas ferramentas auxiliam na automatização do planejamento de compras, garantindo que os materiais necessários sejam adquiridos com antecedência e dentro do orçamento, reduzindo desperdícios e imprevistos.
- Checklists e Inspeções Periódicas: Ferramentas simples como checklists físicos ou digitais ajudam a equipe a monitorar o consumo de materiais e prever necessidades futuras, evitando surpresas desagradáveis. Um dos exemplos mais simples e de fácil acesso a todos é o Google Forms, que pode ser configurado para coletar dados de consumo de insumos em tempo real, possibilitando ajustes no planejamento de compras.
- Método Just in Time (JIT): Adotado em indústrias, o Just in Time pode ser aplicado à construção civil para receber materiais no momento certo, reduzindo desperdícios e otimizando o espaço de armazenamento no canteiro. No JIT, a compra e entrega de materiais são feitas conforme o cronograma da obra, minimizando estoques excessivos e garantindo um fluxo eficiente.
Imagine que uma obra está na fase de alvenaria e, ao invés de armazenar grandes quantidades de tijolos e cimento por semanas, os materiais são entregues exatamente quando necessários. Isso evita desperdício por deterioração, roubo ou mau armazenamento. Da mesma forma, em uma etapa de acabamento, tintas e revestimentos são adquiridos conforme o ritmo de execução, evitando estoques desnecessários e garantindo que os materiais estejam sempre em boas condições. Essa abordagem melhora a produtividade, reduz perdas e torna a gestão de recursos mais eficaz.
O JIT na gestão de materiais de uma obra garante um fluxo eficiente e econômico, alinhado às melhores práticas de Lean Construction.
Conclusão
A gestão eficiente de materiais na obra não é apenas uma questão de conveniência, mas uma estratégia essencial para o sucesso do projeto. Ao substituir compras emergenciais por um planejamento estruturado, arquitetos e engenheiros ganham controle sobre custos, prazos e qualidade da execução. A aplicação das diretrizes do PMBOK e o uso de ferramentas adequadas transformam o canteiro de obras em um ambiente organizado e produtivo, reduzindo desperdícios e imprevistos. Adotar essas práticas de gestão de projetos na construção civil não só otimiza a obra, mas também fortalece a credibilidade dos profissionais envolvidos, garantindo entregas mais seguras e clientes mais satisfeitos. Agora é o momento de dar o próximo passo e implementar essas estratégias no seu projeto!
Que tal começar a implementar essas práticas no seu próximo projeto?
Referências:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 21500: Diretrizes sobre gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro, 2012.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos (Guia PMBOK®). 7. ed. Pennsylvania: Project Management Institute, 2021.
GOLDRATT, Eliyahu M. Corrente crítica. São Paulo: Nobel, 1997.
OHNO, Taiichi. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997.
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Autor
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Certificada PMI® PMP® em gestão de projetos, consultora em gestão de projetos para implementação de processos para maior produtividade e engajamento da equipe, possui larga experiência na elaboração e execução de projetos residenciais, comerciais e institucionais, atua no mercado de trabalho desde 2001 e como docente no ensino superior há mais de 10 anos. Doutora (2019) e Mestre (2014) em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Arquiteta e Urbanista formada pela Universidade São Judas (2000) e especialista em Criação Visual e Multimídia pela mesma universidade (2003).
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